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terça-feira, 5 de maio de 2020

Instinto de sobrevivência vs solidariedade


No dia 12 de Abril ignorei o meu instinto de sobrevivência e num parque de estacionamento em Cascais, onde tinha ido buscar a minha esposa ao emprego, após uns segundos de hesitação acabei por ir em socorro de uma idosa sua conhecida e colega de trabalho que tinha muito provavelmente chocado com a viatura num passeio alto, dado o estado da jante.

Retirei o pneu de socorro do fundo do porta-bagagens, o macaco, a chave de cruzeta ou lá como se chama - a verdade é que por sorte há uma meia dúzia de anos que não preciso de trocar um pneu - e lá troquei o pneu, durante todo este tempo com um suor gelado na testa ao notar que a idosa estava a um metro de distância, se tanto, e respirava como o Darth Vader entre uma tosse quase constante. Só pensava "pronto, já foste".

Esse pensamento tornou-se ainda mais atroz quando soube uns dias mais tarde que a senhora fora internada e estava nos cuidados intensivos com fluído nos pulmões, a informação que me foi dada por um familiar da mesma era de que se tinha tratado de um problema congénito cardíaco e que não se tratava de Covid-19, respirei de alívio.

Qual não é a minha surpresa quando ontem fomos contactados porque a senhora foi novamente internada e acusou positivo no teste ao Covid-19, agora não temos a certeza se foi inicialmente internada por ter Covid-19 ou se tem Covid-19 porque foi internada e se contagiou no hospital. Tenho a nítida sensação de que a senhora e os seus familiares terão omitido a infecção, mas pode ser que não. A minha esposa vai ser testada amanhã, e depois veremos o que se segue.

Curiosamente já tinha assistido nalguns canais sobrevivencialistas brasileiros este debate: há aqueles que defendem que deve triunfar sempre a solidariedade e os preppers estando preparados devem auxiliar as comunidades como puderem, enquanto que há outros que defendem que em Estado de Emergência é cada homem por si e quem não estiver preparado, paciência, num espírito darwinista que pessoalmente não aprecio.

Partilho aqui este meu exemplo, pois ao ignorar o meu instinto de sobrevivência há agora uma possibilidade muito real de me ter contagiado com o novo coronavírus, embora ache pouco provável ou nem terei notado, uma vez que nesta época as alergias e a asma brônquica teriam camuflado os efeitos e já passaram 23 dias. Se bem que a minha esposa anda com tonturas, enxaqueca e tosse seca há uma semana... 

1 comentário:

  1. Você fez bem em ajudar e vamos rezar para que não aconteça nada a sua esposa. Vá dando notícias. Ficamos a aguardar beijinhos do Porto

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